Tuesday, March 17, 2009

Dia de São Patrício

Meu cachorro estica as patas, suspira, e volta a dormir. Bem lá longe, tocam uns sinos de vento; começa a chover de leve. Eu me levanto e prego dois pregos, contribuição discreta à sinfonia da tarde. Penduro quadros novos na parede – ficam quase bons. Arrumo uma gaveta, que permanece como estava. Faço três excursões ao banheiro, para ver se deixei alguma coisa por ali. Abro a porta da geladeira e esqueço o que fui buscar.

É dia de São Patrício e eu penso em fazer alguma referência às minhas supostas raízes irlandesas. Ou quem sabe contar mais uma vez a história do santo que expulsou as cobras demoníacas da Irlanda. Penso em fazer um post perfeito, com referências curiosas e tiradas espirituosas, mas o caminho é tão longo que me contentaria com um texto razoável. O ordinário e o bonito se separam, muitas vezes, por não mais que um detalhe; mas entre o belo e o perfeito existe um mar de escolhas difíceis. E eu tenho uma preguiça absurda de nadar.

Então é dia de São Patrício, e devo dedicar a ele um brinde pelo estado de espírito em que acordei. Hoje estou capaz de pensar um pensamento por vez, ou de pensar nenhum, se quiser; capaz de não me culpar mais que o necessário, apesar de reconhecer-me fortemente deformado pela adaptação à liberdade de Deus (como escreveu Clarice). Bem capaz, como dizem no sul, apesar de quererem dizer o contrário.

Ah, S. Paddy, te vejo regendo o mundo com tua calma onisciente de bêbado. Imagino-te com uma caneca de cerveja verde na mão e um sorriso complacente, enquanto as pessoas seguem achando que a vida se mede em realizações. Acabo de perceber que vinha tentando escrever, quando, na verdade, deveria ter pego o violão. Se bem que até o violão é barulhento demais para a música que a tarde quer tocar.

1 comment:

yo said...

yo creo que nunca deberias dejar de escribir.