Wednesday, August 15, 2007

Me deseas?

- Me deseas?


- Si. Mucho.


Buenos Aires, 1h47. Plaza San Martín, esquina da calle Florida, só os táxis navegam pelo asfalto negro, irrompendo pelos reflexos nas poças d´água e pelas salvas de sons dos bares próximos.

- Me deseas?

- Si. Mucho. Pero no tiengo plata.

- Entonces?

- Entonces me voy, buenas noches.

- Ni 100 pesos?

- No.

- Ni 50?

- Ahn ahn.

- Entonces que haces aca?

- No hablo español.

- Português?

- Pode ser...

- O que você ta fazendo aqui, se não quer uns carinhos?

- Tô esperando parar de chover.

- Não tá chovendo.

- Você fala português muito bem.

- Sou chilena.

- Ah.

- Não tá chovendo.

- Não tinha percebido.

- Você não devia ficar parado, aí...

- Não tinha nada melhor pra fazer. Vou indo.

- Espera. Quer um cigarro?

- Quero. Gracias. Por que você faz isso?

- Isso de vender meus carinhos?

- É.

- Porque posso. Sou jovem e tem gente querendo pagar pelos meus carinhos.

- Pára de chamar isso de “meus carinhos”...

- Sou chilena.

- Entonces?

- Vale. Pero esto es lo que yo...

- Você é bonita. Não acha que está desperdiçando juventude, assim?

- Claro que não, jajaja! A juventude não é um valor, só um momento na vida. Não dá pra desperdiçar juventude, só dá pra viver ou não viver.

- Pode ser...

- Te lo juro!

- Yo te creo!

- Acabou o seu cigarro.

- É, brigado. Meu hotel é bem ali, vou indo.

- Espera! Não vai agora, tá chovendo...

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